sábado, 1 de agosto de 2009

Vinhotrip


“penso che um sogno così

non ritorni mai più”(*)

cantava o mano Lui

sentado sobre a mesa de mármore

do Café Luna Park


um copinho só

pelamor de São Jacó

suplicava Marcelino Gutierrez

na frente do Café Luna Park


esta noite dormirei

com a noite dormirei


ramo, folha

flor e fruto

mosto

e um golpe pronto

galopando na garganta

o gosto de causos

e viagens

e uma bala de garrucha

cavalos, carretas e dornas

sobem pela Avenida Rio Branco

aromas de malvasia


esta noite dormirei

com a noite dormirei


Dura excursão

De sonhos concretos

Navegando por vinho novo

Encharcado de peitos

E depois vai dançando

Vai descendo e aquecendo

Lembranças

De invernos esquecidos

E vai perseguindo minha alma

Vertiginosamente habitando

Cada dobra das vísceras

E os lugares mais estranhos

Desta Colônia da Boa Vista

Do Vinte Sete


Esta noite dormirei

Com a noite dormirei


Salta solta uma rolha

Solta salta a rolha

Grita Moacir Holderbaum

No instante quebradiço

Do quartzo cortante

Cristais e ametistas

Tintas de negro azul

Vinificado

Explodindo em luz

Na manhã matina


Esta noite dormirei

Com a noite dormirei


Pedra de saibro

Na estrada do Borguêto

Salve Santa Tereza

Onde o rio das Antas se despede

E despenca

Em desespero rumo ao mar

(espuma e bolha

na concha da mão)


esta noite dormirei

com a noite dormirei


Garibaldi contra Bento

Mil novecentos

E setenta e três bêbados

Desfilam por último

Na procissão de São Roque

Já quase em Barbosa

Trovam trova

Em verso e prosa

E na meia-noite fria de julho

Um velho trem fantasma rola

Da Ponte Seca ao Maratá

Pelo caminho sem trilhos

Perseguindo enlouquecido

A estação do Nunca Mais


Esta noite dormirei

Com a noite dormirei


(enquanto isso

entre o Doze e o Barão

come solto um trissete

dois copos , uma garrafa

salame, graspa

e um pila)

porta via um bel biquier(**}

pelamor di San Pier


(*) primeiro verso da canção “Volare”, de Domenico Modugno, hit parade dos anos 60

(**} copo de vinho, no dialeto vêneto da Serra Gaúcha

Malvasia é uma variedade de uva branca com a qual se faz vinho espumante

2 comentários:

  1. Primeirão quaquer coisa aí! Lembra do nosso bordão, reelaborado de uma piada do Henfil? Pois sou o primeiro aa celebrar esta explosão pessoal e coletiva, o Blog do Virson, que nos traz poesia, memória, futebol, crônica, anos 60 e 70, tudo xunto incluído, como dizem os alemongas da "séra" (lá onde se põe o pé no "baro" e se corta no "vridro", como me contavas naqueles idos). Excepcional blog, que veio para ficar. E queremos postagens diárias. Muitos anos quieto, agora tem que dizer a todo momento, para a alegria dos leitores. Dale que dale!

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  2. Nei,
    mas bá, agora que eu to encurralado mesmo, criar um blog é como cair numa doce arapuca, mas vou encarar.
    Nesse meu retorno as colonias serranas descobri que a serra de hoje é quase outra. A minha serra, que eu ouso chamar de Serra Clássica, não tinha asfalto nem televisão,
    tinha trem e cinema e festa de igreja.
    E legou clássicos da culinária que hoje são pratos nacionais: o brodo (um caldo de galinha), o galeto que era chamado de "al primo canto" e o "al mena rosto", assado rapidamente.
    Os clássicos de futebol infelizmente acabaram: Esportivo x Serrano (Bento Gonçalves, Guarani x Juventude (Garibaldi) e Serrano x Juventus (*de Barbosa)
    Futebol só tem agora de salão.
    E minha geração é uma das últimas que viveram a serra clássica, das estradas de "báro" e de macadame.
    A Serra Clássica acabou nos 70, quando arrancaram os trilhos da estrada de ferro de Montenegro a Carlos Barbosa e o asfalto e o "valor agregado" vieram junto.

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