“penso che um sogno così
non ritorni mai più”(*)
cantava o mano Lui
sentado sobre a mesa de mármore
do Café Luna Park
um copinho só
pelamor de São Jacó
suplicava Marcelino Gutierrez
na frente do Café Luna Park
esta noite dormirei
com a noite dormirei
ramo, folha
flor e fruto
mosto
e um golpe pronto
galopando na garganta
o gosto de causos
e viagens
e uma bala de garrucha
cavalos, carretas e dornas
sobem pela Avenida Rio Branco
aromas de malvasia
esta noite dormirei
com a noite dormirei
Dura excursão
De sonhos concretos
Navegando por vinho novo
Encharcado de peitos
E depois vai dançando
Vai descendo e aquecendo
Lembranças
De invernos esquecidos
E vai perseguindo minha alma
Vertiginosamente habitando
Cada dobra das vísceras
E os lugares mais estranhos
Desta Colônia da Boa Vista
Do Vinte Sete
Esta noite dormirei
Com a noite dormirei
Salta solta uma rolha
Solta salta a rolha
Grita Moacir Holderbaum
No instante quebradiço
Do quartzo cortante
Cristais e ametistas
Tintas de negro azul
Vinificado
Explodindo em luz
Na manhã matina
Esta noite dormirei
Com a noite dormirei
Pedra de saibro
Na estrada do Borguêto
Salve Santa Tereza
Onde o rio das Antas se despede
E despenca
Em desespero rumo ao mar
(espuma e bolha
na concha da mão)
esta noite dormirei
com a noite dormirei
Garibaldi contra Bento
Mil novecentos
E setenta e três bêbados
Desfilam por último
Na procissão de São Roque
Já quase em Barbosa
Trovam trova
Em verso e prosa
E na meia-noite fria de julho
Um velho trem fantasma rola
Da Ponte Seca ao Maratá
Pelo caminho sem trilhos
Perseguindo enlouquecido
A estação do Nunca Mais
Esta noite dormirei
Com a noite dormirei
(enquanto isso
entre o Doze e o Barão
come solto um trissete
dois copos , uma garrafa
salame, graspa
e um pila)
porta via um bel biquier(**}
pelamor di San Pier
(*) primeiro verso da canção “Volare”, de Domenico Modugno, hit parade dos anos 60
(**} copo de vinho, no dialeto vêneto da Serra Gaúcha
Malvasia é uma variedade de uva branca com a qual se faz vinho espumante
Primeirão quaquer coisa aí! Lembra do nosso bordão, reelaborado de uma piada do Henfil? Pois sou o primeiro aa celebrar esta explosão pessoal e coletiva, o Blog do Virson, que nos traz poesia, memória, futebol, crônica, anos 60 e 70, tudo xunto incluído, como dizem os alemongas da "séra" (lá onde se põe o pé no "baro" e se corta no "vridro", como me contavas naqueles idos). Excepcional blog, que veio para ficar. E queremos postagens diárias. Muitos anos quieto, agora tem que dizer a todo momento, para a alegria dos leitores. Dale que dale!
ResponderExcluirNei,
ResponderExcluirmas bá, agora que eu to encurralado mesmo, criar um blog é como cair numa doce arapuca, mas vou encarar.
Nesse meu retorno as colonias serranas descobri que a serra de hoje é quase outra. A minha serra, que eu ouso chamar de Serra Clássica, não tinha asfalto nem televisão,
tinha trem e cinema e festa de igreja.
E legou clássicos da culinária que hoje são pratos nacionais: o brodo (um caldo de galinha), o galeto que era chamado de "al primo canto" e o "al mena rosto", assado rapidamente.
Os clássicos de futebol infelizmente acabaram: Esportivo x Serrano (Bento Gonçalves, Guarani x Juventude (Garibaldi) e Serrano x Juventus (*de Barbosa)
Futebol só tem agora de salão.
E minha geração é uma das últimas que viveram a serra clássica, das estradas de "báro" e de macadame.
A Serra Clássica acabou nos 70, quando arrancaram os trilhos da estrada de ferro de Montenegro a Carlos Barbosa e o asfalto e o "valor agregado" vieram junto.