Na primeira infância tínhamos rádio em casa. Só meu pai ligava o aparelho para escutar notícias e música. À noite sintonizava as rádios argentinas e uruguaias para ouvir tango. Não me lembro de ter ouvido narração de futebol. Só mais tarde, quando eu já estava no curso primário, mas então já não tínhamos rádio em casa e eu ouvia o do vizinho.
Em Carlos Barbosa foi a primeira vez que me lembro de ter escutado um narrador esportivo. Foi quando escolhi o time para o qual viria a torcer pelo resto da minha vida. Foi uma decisão fruto de um desafio, no meu primeiro dia de aula no Grupo Escolar de Carlos Barbosa, era março de 1951. No recreio, um cara de boné e com um jeito de patrão da área – Domingos Baldasso - me interpelou, perguntando pra que time eu torcia.
Não fazia a menor idéia do time que eu torcia. Não me interessava por futebol, no jornal que, de vez em quando meu pai trazia pra casa, minha preferência ia para os anúncios dos filmes que passavam na Capital, anúncios que eu gostava de recortar e que depois guardava
numa caixa de madeira junto com meus objetos pessoais.
Respondi com outra pergunta ao meu interlocutor: quem era o campeão? O campeão era o Colorado, então eu estratégicamente me declarei colorado a partir daquele momento, numa decisão de ímpeto irreversível e definitivo. Antes daquela decisão não me recordo de jamais ter visto uma fotografia do time colorado. Meu pai, que mais tarde fui saber que era gremista – ignorava solenemente o esporte bretão, como diziam os locutores esportivos.
Ser colorado ou gremista nos dava uma identidade naquelas paragens isoladas da serra gaúcha dos anos 50. Passei a acompanhar a trajetória do meu time escutando os jogos no rádio do vizinho.
Tiveste sorte. Imagina se fosse no ano em que o Renner foi campeão.
ResponderExcluirProvavelmente eu seria um dos únicos torcedores do Renner ainda vivo.Uma raridade!
ResponderExcluirLotariam uma romisetta!
ResponderExcluir