terça-feira, 4 de agosto de 2009

A COLONIA CLÁSSICA

A serra gaúcha foi colonizada basicamente por camponeses italianos vindos do Vêneto, Trento e Lombardia. Os primeiros grupos chegaram a partir de 1875. A região não tinha estradas, todo o transporte nos primeiros anos era feito no lombo de animais de carga, através de picadas abertas na mata.

A inauguração da estrada de ferro em 1909 impulsionou a colônia em todos os aspectos. Foi o fim do isolamento e o começo de uma nova era. A Colônia primitiva e isolada começaria então a sedimentar as bases para a pequena indústria, que mais tarde, nos anos 50 e 60 se projetaria para todo o estado e o país: metalurgia metal-mecânica, produção de vinhos e espumantes, indústria moveleira.

Aquele tempo (1909 até fins de 1970) foi o que eu chamo de período clássico da colônia, que me viu nascer e crescer até a adolescência, quando então dela me despedi em 57. Foi a colônia movida a trem de ferro, que só parou de andar no início dos 70, quando arrancaram seus trilhos .

A serra gaúcha nos deu vários clássicos, sim. Na culinária de inverno, o reconfortante brôdo, servido nos dias e noites gelados de maio a setembro.

O brôdo é um caldo de galinha, que se toma acompanhado de muito queijo ralado, pão e carne lessa, que são os pedaços fervidos da galinha, fria e salgada fora da panela. Uma das variações do brôdo é a sopa de capeleti ou de agnolini, pequenas pelotas recheadas de frango ou ricota.

Outro clássico que praticamente desapareceu por falta de matéria prima – a caça - é a passarinhada frita comida com polenta e molho.

E finalmente, mas não em definitivo, o super-clássico galeto com polenta frita e salada de radicci temperada com vinagre e pedacinhos de bacon frito, que na minha infância era chamado de “al mena rosto”, ou frango assado na brasa.

No futebol também tivemos clássicos: O Serrano x Esportivo em Bento, o Guarani x Juventude em Garibaldi, o Serrano x Juventus de Carlos Barbosa e o maior de todos, o Fla x Ju em Caxias, Flamengo x Juventude, que depois virou Ca x Ju.

A era clássica da serra gaúcha acabou juntamente com o fim do transporte ferroviário e o início do asfalto. Começa nos 70 o período da plena indústria e de seus valores agregados. O galeto vira um prato estadual, gaúcho, se incorpora às churrascarias porto-alegrenses e ganha o Brasil e o mundo. A culinária e o artesanato são agregados ao turismo nascente e a renda das famílias aumenta.

Minha geração é uma das últimas que viveu aquele período na serra gaúcha. Sou um sobrevivente da Colônia Clássica e da enchente de 41. Duas características daquela era: não havia asfalto nem televisão. Mas tinha cinema e muitos! Já falei do Trianon e do Rex em Garibaldi, verdadeiros palácios de fina acústica e paredes acolchoadas de veludo?

Não tinha, asfalto, é verdade, mas as estradas da serra que ligavam as cidades eram de macadame, secas no verão e firmes na temporada de chuva, mas nas colônias miúdas, quando chovia,os caminhões, os carros e os táxis entravam no calçamento das cidades espalhando lama no paralelepípedo das ruas, chacoalhando os pneus envoltos nas correntes, que era a única maneira de não ficar atolado em alguma biboca no meio dos vales profundos do rio das Antas.

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