sexta-feira, 14 de agosto de 2009

EUROPA, FRANÇA E GARIBALDI

Paris? não, rua central de Garibaldi - Foto SkyscraperCity

O que mais me faz lembrar da França – onde nunca estive, mas já passei perto – é o maio de 68, que atingiu em cheio minha iniciação política de estudante universitário. Aquele maio ressuscitou as esperanças num mundo melhor – anarquista, por que não? – mas também apagou a imagem libertadora e democrática que eu tinha do presidente Charles de Gaulle, quando nos reduziu a uma única e preconceituosa expressão: chienlit, ou na linguagem dos que não admitem oposição: baderna.

Naquele momento de Gaulle deixou de ser um dos meus heróis da resistência francesa à opressão nazista e passou a representar o que havia de pior na direita mundial. E quem poderia transformar-se em herói naquela França anterior ao horror nazista? Alfred Dreifuss condenado injustamente por traição à França que ele amava e servia como o mais fiel de seus filhos. E Jean Moulin, combatente e organizador da Resistência, cujo triunfo não conseguiu presenciar.

Na minha infância e adolescência, passadas na Serra Gaúcha no início dos anos cinqüenta, a França era presença cotidiana no nome de uma variedade de uva, de casca durinha, a “francesa”, com a qual se fazia um vinho de mesa, simples e delicioso.

Depois, na marca “Georges Aubert”, de vinhos espumantes, produzidos por uma família de vinicultores emigrados da França do pós-guerra, na então pequena cidade de Garibaldi, onde morei até o ano de 1957.

Naquele ano, o paraninfo da minha turma de ginásio foi nada mais, nada menos do que o próprio monsieur Georges Aubert, simpático cidadão francês, que patrocinou meu primeiro porre de champanhe, exatamente no dia da formatura. Éramos provincianos e nos deslumbrávamos com a cortesia e a boa educação daqueles europeus. E como era linda e charmosa aquela França burguesa!

Mas o que seria a França sem Robespierre, sem Marat, sem Danton, ou sem a fúria proletária da Comuna de Paris? Não teríamos história, talvez nem civilização, nem arte, nem literatura, nem cinema. Outras indagações povoariam minha cabeça nos anos seguintes.

O que seria a nossa oprimida adolescência sem as fantasias que nos despertavam os olhares transgressivos de Brigite Bardot? O que saberia eu da contribuição francesa à paz mundial, se não tivesse lido as páginas imortais de “Os Thibault”, a inesquecível trilogia de Roger Martin du Gard? E se meus ouvidos jamais tivessem escutado as vozes inconfundíveis de Edith Piaff e Charles Aznavour ?

Minha lista de símbolos da França perene ainda incluiria muitos outros nomes. Just Fontaine, o maior goleador de todas as Copas. “Jules e Jim”, Magali Noël, Jean Louis Trintignant, Jules Dassin, “Rififi”, Pierre Barouh. E ela, eternamente bela, Caterine Deneuve. E, como disse Ettore Scola, quando terminou de filmar “Casanova e a Revolução” (“La Nuit de Varennes”): basta, fico por aqui.

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