Hugo Carvana, no filme "Vai Trabalhar, Vagabundo"
A difícil missão do jornalista, escritor, memorialista, poeta, seja lá quem for que esteja a batucar num teclado, é escrever. Não dá pra escapar desse destino meio amargo, meio doce. E vem de longe essa coisa de escrever. Parece que estou ouvindo minha mãe me dando adeus e me advertindo premonitoriamente: "e vê se escreve! "
Difícil, sim, porque escrever se confunde com o ato de trabalhar, verbo torturante pra mim, confesso. Vejam a etimologia, vem de tripalium, um instrumento de tortura! E não me digam que vocês não sabiam. Mas enfim, trabalhar era preciso e hoje não, porque estou aposentado. Confesso novamente.
Escrevi minhas primeiras redações no primário, depois no ginásio. Escrever era algo secundário, como os cursos. A coisa ficou importante quando entrei no jornalismo. A batalha do texto jornalístico, objetividade, clareza, imparcialidade, a busca da informação, as fontes. Mas isto foi noutra época. E agora mais ainda.
Hoje muitos de nós não temos mais obrigação profissional de escrever. Mas continuamos, seja por vocação, consciência, diletantismo ou obsessão. Admiro, invejo e tenho orgulho de meus amigos ou conhecidos, escritores, poetas e jornalistas. E por dever de consciência devo admitir: não é inveja boa, é inveja mesmo.
Depois de muito escrever na ativa admito que hoje prefiro mais a leitura. Mas só leitura deixa a porta aberta para certos vicios que tão bem conhecemos e que são a desdita de muitos colegas. Ainda bem que despertei para o universo blogueiro e nele viajo sem parar, me esqueço até da nossa grande e sagrada missão que é teclar. Como não se perder no universo sarcástico de um Renzo Mora, na simplicidade profunda de um Fábio Bruggemann, no engajamento do Nei Duclós, do Sérgio Rubim, de um Marco Vasques, de um César Valente e de tantos nomes talentosos desta ilha do nosso exílio?
Então só me resta recomeçar, refazer o texto, tirar aqui, acrescentar mais adiante. Me animo com esta frase, nunca esquecida e escrita pelo Claudio Levitan, autor de letras inesquecíveis:
Nada mais nos resta a fazer, senão fazer.
P.S.: O título aí de cima foi inspirado por uma conversa com meu velho amigo Martinho Rottmann, a quem reencontrei depois de quarenta e tantos anos.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
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